Da Roda Original

O vento
É a página de ar
Onde escrevo ao falar.

A alma
É o linho branco
Onde teço o encanto.

O som
É o liso da vida
Onde a magia respira.

O vento
É a folha de alento
Onde danço ao momento.

Contracensor

Tem vezes eu me esqueço
Que no fundo de cada coração amigo
Com certeza tem um pedaço reprimido
Que daria a vida pra salvar o mundo.

Ginecosofia

A vida
É o útero.

É útero em cada nada
É útero de tudo em cada tudo.

A sopa salgada
Denunciava a paixão
Sempre livres
Elas queriam correr.

A caverna soturna
Cavocavam
Toupeiras bacantes
Alargavam a foz!

O amor
Derrubará todas as paredes!

A força no amor
Maestra sobre a dor
Abrigará fulgor
Aquietará todas as línguas.

Mil terremotos!
As fendas dançam!
Mil mananciais inodoros!
Ah erotismo primordial que me assombra!

Diz-me
Diz-me agora
Teu nome
Canta tua sombra.

Coça os cílios e diz
Diz o que é que precisas fazer
O que é que precisas conquistar?

E é em nome de mim?
Ah profano ingrato!
Não é em nome de mim?
Em nome do último nome além do nome?
Em nome do nome que reúne os mais brilhantes nomes?

Fantasias
E depois questiona
Rejeita e renega
Mas bem vos digo
Bem vos digo pupilos e musas:

Perdessem-se as tuas fantasias
Perdiam-se junto todas as alegrias.

Parênteses

O que é Orgasmagia?

Seriam apenas bocejos insípidos dum maconheirinho de titica?
Seriam monólogos estéreis loucos demais sonhadores demais?

O que é a idéia que transcende a substância?
O que é o conceito que define a impossibilidade do conceito?

E se somos relva e pasto e lençóis freáticos ultragalácticos como somos
E se somos os ventos rasgados dos pluricosmos particulares de toda vida em luta
Se somos todo espectro do inanimado e do vivente em eterna profusão confusa que somos
O quê é Orgasmagia?

É como perguntar à vida em sua derradeira hora:
Por que? Por quê?
E ela responder:
Porque Sim! Porquê Sim!

O que é a cura que uma obra de arte insólita e meditatrix pode realizar?
Com quantos paus se faz uma canoa?
Quantas estradas devemos percorrer?

O ser humano pode ser forte e inteligente?
O ser humano pode ser educado e propositado?
As vacas podem voar?

Pareidólico

Quem faz faz
Quem promete compromete.

Quem é é
Quem diz contradiz.

Quem quer quer
Quem pede despede.

Quem ama ama
Quem clama reclama.

Quem luta luta
Quem seduz deduz.

Quem tem tem
Quem roga prorroga.

Quem pode pode
Quem almeja apedreja.

Quem vê vê
Quem manja esbanja.

Quem vai vai
Quem fica implica.

Quem cresce cresce
Quem erra enterra.

Curagem

Acordes concordes
Da fogueira sagrada
Uma ruma de alegria
No violeta de mil sóis.

Esguias linhas
De fiordes musicais
Uma escola de leveza
Na ginga de mil almas.

Portinholas abertas
Somos poucos
Honrando o passado
Estamos encarregados.

Entre aspas trilhas
Jejuns inocentes
Resgate do alento
Valsa sutil dos abundantes.

Pingado

Preto no branco
É contraste.

Preto com branco
É cinza.

Com metas e dores
Nos metemos
Pela vida a piscar.

Ora luzeiros
Ora obscuros!

Vagalumes do amor
Rindo-nos
De todas as tragédias.

Em comunhão
Com tudo aquilo
Impossível de se apreender.

Desabrochos

Família do mundo
Em alto e bom tom
Família de todas as famílias do mundo!

Saudações flores
Saudações sementes
Deusas das chuvas os abençoem!

Família rica
De todos os bichos e plantas
Família elemental
De todas as rochas e rios
Lar original!

Lar de todas as ceias
Mesas postas ao amor
Longos passos rumo à gratidão.

Pernas curtas
Andam sim ao longe
Já dizia a poetisa borboletreira.

Ah filhos do amanhã!

Ah caminhos inexplorados do homem!

Respirai fundo
Dominai tuas entranhas
Calma
Desleal!

Tome tentos
Atente ao tormentos
Cala
Cala tudo em ti que fala!

Cala teu sangue e teu pensamento
Silencia até o som que não é som
Torna tudo a pedra infinita que é
Olha como é bela!

Olha como é belo o objeto único que compõe tudo!

Bem
Chora!

Chora vadio!

Poeta santarrão
Chora por tudo que já caiu
Chora as folhas e frutos maduros
Chora os úberes de leite e vinho
Chora a queda de tudo grande que já viveu.

Tudo imenso que já viveu
Sobre esta e sobre todas as terras
Tudo que vive além do conceito de vida
As personalidades estelares
Do lado de fora de nossas janelas!

Chora pela inocência eterna
Eterna infância que nada impede
Chora os caules e troncos
Chora os galhos e seiva de tua determinação
Chora a música universal que cura todas as tristezas!

A cura sagrada
Cura da finalidade
Do santo objetivo determinado
A cura da força
Do foco intenso e sutil de tudo que se enleva e flutua.

E dá de comer
E dá de calçar
Arranje tua certa balança
Pese os poucos e os muitos
E não dispense os detalhes caríssimo
Ah jovem
Ah maduro prestíssimo
Não desprezes aos detalhes
Perpassantes
Trespassantes
Eles nos atravessam
E muito contam!

Contam mais que números
Os detalhes assim ordenados contam estórias
Contam tudo do sentimento sem nome
Da primavera lúdica
Do novo clown
Do novo Shakespeare
Contam das linhas que nos seguram nos eixos
Linhas imaginárias que usamos pra nos delimitar
E assim criamos limites
Somos réus juris juízes e carrascos de nós mesmos.

Prevaleça o sorriso!

Prevaleça a crença profunda
Que além da dúvida nos conforta
Prevaleça a razão destemida
Prevaleçam os instintos musicais!

Que nossos sentimentos ecoem
No imenso espaço que nos rodeia
Pelo vão infinito que nos permeia
Que nosso amor imenso alcance seu dom
Que a terra alcance sua cor além da cor
Que todas as almas encontrem a perfeição de tudo que há
A harmonia misteriosa que nutre cada pétala de nossas alegrias.

E quando a hora chegar
No cume derradeiro da luta e da dança
Que a família se reconheça!

Quando o dia chegar
Em que a fé enfim colha com fartura
Que nos lembremos de quão verdadeiramente dependemos uns dos outros.

Certismo

Só os derrotados
Vêem o erro.

Os satisfeitos
Vêem em sua satisfação
A prova cabal da perfeição.

Daemon Ex Machina

Sou O Sol
Que inflama
Os confins de Tudo!

Sou o violento
Vilipendioso Violeta!
Sou a guerra a todas as tréguas!

Sou O Usurpador!
O bestial fenomenal
O Fenômeno além do fenômeno!

Sou a escolha virgem
O véu da santa ilusão!
Sou O Sonho
A máquina de todos os ódios
O Céu de todas as esferas!

Sou tudo que não sou
Sou o som além do som!
Sou o que não se sonda!
O que não se rebate!
O Grande Dom
Sou A Transformação!

Sou O Círculo!
Sou o anel sobre si mesmo
A Vitória!
Sou sempre O Mesmo!

Sou sempre novo
Sempre Outro!
Sou A Ponte
Que se atravessa a nado
Sincronizado!

Sou as entranhas
Os cílios
Os aurículos!
Sou o veneno de toda arte
Sou o preço de toda alegria
Sou nota metálica calma e quieta
Sou o silêncio que precede O Dilúvio!

Sou O Mestre
De todos os mares
De todas as selvas
Sou O Amo
De todos os amores
De todos os sabores
Sou o seio de todas as cores
A implosão de todas as dores!

Sou teu fôlego trôpego
Sou tuas pernas bambas
Sou tua barba maltrapilha!
Sou dedos cobiçosos
Tuas mágoas enterradas vivas
Que respiram ainda!

Sou A Dança
A Morte
Sorrateira
Em Meio Dia!
Sou a morte dos sentidos
A morta da dança
Sou a maré de areias
O Tempo
A Raiz!

Sou O Porquê!
Sou O Fim!
O Fim
Que é Começo
Sou O Renascer
Eterno
Sou A Mãe
Sou o parto de mil existências
Sou O Útero
Último e primeiro
Sou O Alfa
E O Ômega!

Sou A Entrega
Sou a fome dos justos
Sou a abraço ardente!
Sou O Amor
O Grande Assassino
Sou o amor furioso!
O Mais Alto Amor
Ímpio
Sou A Cura!
Sou teu estupro!
Sou O Orgasmo Múltiplo!
O prazer mútuo da violação!

Sou O Anjo
Com asas nos pés
Sou O Bailarino!

Da Demoncracia

É chegado um novo tempo
É chegada uma nova era
Um novo momento.

É chegado um novo tempo
É uma nova era começando
E precisamos de um novo movimento.

Estamos finalmente vivendo
A grande revelação da verdade social
Chegou o tempo da grande justiça
É hora de acordarmos de um longo torpor
De um sono de milênios e milênios.

Nós acreditamos
Ah pobres inocentes
Acreditamos na humanidade
Na república
Acreditamos na comunidade
No ser humano.

Acreditamos que temos leis
Que superamos todos os reis
Acreditamos que o mundo corre certo
Nas correntes do tempo inescapável
Acreditamos que há alguém fazendo algo certo
Em algum lugar muito importante
Lá onde nossas grandes soluções planetárias estão sendo trabalhadas
Lá nas instituições e organizações paras as quais trabalhamos e pagamos
Com nosso sangue e nossas crianças por estas mesmas soluções.

Mas ah meio dia cruel
Ah carrasco perverso e sádico
Médico louco e paciente
Ah maldade que corrói o mundo
A verdade é obscura e dolorosa
É o grande susto de toda virtude honrosa
De toda altivez dadivosa
A grande verdade é nojenta
E pungente como um soco certeiro ao queixo.

A resposta não era um número
Era uma história
Uma longa história de melindragens
Segredos
Assassinatos e conspirações
Era a história da busca pelo poder
A crônica que contava dos maiores tiranos
Aí estava a última verdade social apanhável.

No princípio do que chamamos civilização
Grandes homens primeiros
Iniciaram os primeiros impérios
Eles caçavam em bandos à massa humana
Pescavam e domesticavam os humanos mais toscos
Educavam os selvagens em hábitos básicos e os arrebanhavam.

Então o fatídico
A evolução da agricultura
Famigerada e amada evolução da agricultura
Que nos libertou do desespero sem fim da vida nômade
Evolução da agricultura que nos suplantou vitoriosos
A ferramenta final
O divino conhecimento em floração
Mas daí ai daí
Chegou o dia em que compreenderam
Que uma pessoa trabalhando a terra
Podia cultivar bem mais que precisava pra se sustentar.

Então se alguém trabalhando dia a dia
Produz excedente excelente além do que consome
Está feito o primeiro lucro e o primeiro dividendo
Está clara a bela idéia que é possuir humanos!

Está clara a maravilhosa
Esplendorosa idéia de domar e se apoderar de homens e mulheres!

O lucro!

O excedente!

Eles nos dão longevidade
Nos dão poder e saúde
Vida e tempo
Tempo que é o que todo espírito mais quer!

Ah dor do parto!

Ah mil dores de mil partos!

Quando olhamos um mapa do mundo
Não são países separados pelas linhas
Não são os povos divididos por fronteiras
São fazendas
Fazendas de gado de gente
Com nota fiscal e marcação a ferro quente!

Ai quanta cegueira da origem ao meio
E assim principiou a escravidão
A posse de homem por homem
E os refinados barões e suas bancas
Prosperaram.

Impérios cresceram e guerrearam
E por um tempo isto foi bom
Por um tempo nações eram regidas por líderes
Por sangue ou por conquista
As populações eram guiadas por mestres eleitos.

Mas o verme da ganância não deixou de roer
No coração da terra plantou sua ignorância
As nações uma a uma caíram
Corrompidas e torturadas
Contra o muro uma a uma as uniões cederam
Pouco a pouco um novo deus nascia
Um novo nome para um novo poder
O dinheiro nascia
O estado nascia como máscara de um governo ilusório.

O dinheiro era a nova chave
Era a magia negra da usurpação materializada
Ele agora distinguia a nova aristocracia
E ah como ela prosperou e tem prosperado!

Quanto vale o indizível
Quanto fica do incrível
Do bestial da revelação?

Quanto ainda suporta qualquer um
Quanto ainda pode ouvir um ouvido delicado
Quanto ainda pode tolerar o esperançoso?

Frívolas perguntas
Os líderes eram desconhecidos
O derradeiro trunfo
Um império invisível
Enterrado sob milhões de camadas falsas
O verdadeiro governo ia em verdade muito bem
Muito bem das pernas!

Banqueiros
Tiranos mentirosos
Máfias e famílias bem tensionadas
Só gente fina da alta
Finérrima
Os corporocratas reinavam cem anos atrás e ainda reinam.

São eles os donos de tudo
Eles os donos dos bancos pra quem todos os países devem as cuecas
Eles os oligarcas da energia e dos combustíveis
Eles os milordes das guerras e dos tráficos de drogas e crianças
Eles os degenerados colocando abaixo todo verde em nome de nada
Em nome da mais pura volúpia da dominação.

Com pesquisa ou sem pesquisa
Nova ordem mundial
Iluminatti
Comissão trilateral
ONU
Chame como for chamar
O mundo na mão dos bancos não vai durar.

E que pode o cidadão comum fazer?

Pesquisar
Inquirir
Buscar e ler
Permitir-se a morte simbólica
Permitir-se a nova possibilidade
A nova emancipação
A nova noção da realidade que circunda e permeia.

Se eles são os donos de tudo
Que comandam as inflações como um jogo de tabuleiros
Que decidem as agendas e as guerras
As mentiras e as encobertações
Se são eles os que pensam tudo
Que veneno iremos comer com nossa comida
Que destruição iremos causar à terra e à vida marinha
Como educar nossos filhos
Em que investir nossos espíritos
Se são eles que ordenam tudo e nos ordenham desavergonhados
Como vencer?

Se são os donos de todos os exércitos
E todas as corporações
E todas as estradas e recursos
Se são os donos das redes de televisão
Dos jornais e da internet
Se conseguem ler nossas mentes com máquinas
E querem nos implantar chips e nos adestrar para além de toda salvação
Como ao menos discutir uma possível vitória?

A guerra está correndo
Invisível
Secreta e bem debaixo de nossos narizes
Sete dúzias
Contra sete bilhões.

A guerra
É por nossas mentes!

A guerra
É por nossas mentes e corações...

A guerra é por nossas consciências
E a vitória da elite de Wall Street é a derrota de Mãe Gaia.

Estamos todos repletos de ótimas intenções
Então direcionemos nossas energias todas ao berro de alerta
Ao heróico brado retumbante que exclama a última verdade social!

É chegada uma nova era
Um novo tempo
Um novo momento
E precisamos de um novo movimento.

Um movimento de informação
Em que voltemos a discutir do mais importante
Pois como disse Marthin  Lurther King:

"Nossas vidas começam a morrer
No dia em que nos calamos sobre as coisas
Que são verdadeiramente importantes."

ESTÓRICO