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Da vela
És a flama
Da terra
És a plaina.

Na caverna
És o morcego
Na taberna
És o enredo.

Do barquinho
És o remo
Do caminho
És o extremo.

Na igreja
És o sermão
Na certeza
És a decisão.

Do sol
És a lua
Do sonho
És a nua.

Pro trem
És a estação
Pro bem
És o culhão.

Da equação
És a soma
Da lunação
És a onda.

Pra canção
És o gingado
Pra emoção
És o alado.

Bravata

Quanto mais a gente vive
Mais a gente morre.

E morrer é renascer
Pra vida que ainda vive.

Mas cachorro velho
Não atruque prende novo.

Gratidohm

Quando a vitória chegou
Ele não soube como fazer.

O prêmio não era paz
Era arma e escudo novos
Vencer não era o fim
Sim seu verdadeiro princípio.

Sobre a corda bamba
Não olhava abaixo nem atrás
Sobre a emoção atemporal
Bamboleava entre pitos.

Perigoso demais parar
Perigoso demais retornar
Sóbria lealdade restava
E rogava ao multiverso por direção.

A prece iniciava ilustrada
Oração de palavreado
Depois ele repetia noutra língua
E enfim percebia que reza boa
Era mesmo em silêncio astral
Pura audição em foco total.

Quando enfim venceu
Não teve tempo de parar pra olhar.

O amor já abria cadeados
Descendia do éter ao pé de mim
A ventura acenava marota
Cantarolava nova bahiana esfaimada.

A urgência já aguardava ação
Demônios cutucavam aos rodapés
A paciência já exigia o supremo
A suculência já pulsava o pântano coachante.

Quando o apoio firmou
A janela desgradeou
O colóquio sintético se engraçou
O tom prudente se afirmou.

Fim da batalha mas não da guerra
Agora o canhão laser fazia lazer
O ovo da fortuna escapulira da cloaca
Agora o trabalho era o melhor prazer.

Parabucólicos

Quem não pode club edge
Vai de sala de estar
Quem não pode sound system
Qualquer solo pra sapatear.

Vai de grama do jardim
Quem não pode caribenho
Vai de bananeira e aipim
Quem não pode jalapenho.

Hortelãs que nos sustentem
Quem não tem cash vai de quintal
Boldos cidreiras o bem esquentem
Quem não tem card viaja de vendaval.

Quem não pode club clash
Vai de sala de estar
Quem não pode trip system
Qualquer passo pra salvar.

Importancião

Será quê
Que importa?
Eu e você
A pátria a glória?

Mim importa paixão
Cucas frias sem cuecas
Brasilândia importa
De tudo pelo porto dos santos.

Caução à preparação
Que pré pára
E vem com livro pra poção!

Ôxe se não marreto!
Palavrão de contramão
Dou da bota o bicão
Porém bem também no carinho sou certo.

Tudo lindo
Boniteza soletrada
E quê é que importa?
Importa senso e ação
Importa nutrientes tração!

As fronteiras
De quark osso e pele
Importam sensciência
Essências invisíveis de paz
Importam a dança dos sóis
As sanhas das luas e lençóis.

E pré paro
Pra quando então parar
Ao derradeiro a encarar
Estar preparado de faro.

É o cheiro que importa
Da torta de pêssego
Quente dolce úmida
Vibrante fragrante
Em flagrante avante
De róseas essências florais.

As flores
Falam
Florem
Os amores
Calam
Colhem.

Amoreiro

Somos segredos
Que não se dissipam
Nas mãos do tempo.

Somos além
Muito além da imaginação
Imagine só.

Somos um esforço conjunto
Mil vidas em cada
Heranças indecifráveis.

Somos eternas crianças
Despreocupadas
Com tudo que não sabemos.

Somos sonhos
Que não se desfazem
No despertar inócuo.

Somos redes
De pesca de borboletas
Panapanás até.

Somos o tom de poesia
Das cores secas
Do fim de tarde invernal.

Somos frutos maduros
Melaço de amor
Antídoto pra todo rancor.

ESTÓRICO