Pletora

Mesmo Don Juan havia de
Pós crise muscular
Se questionar: "qual o sentido da Vida?"
E retornar a alguma origem
Decifrar o enigma de uma lembrança com que tão cegamente aprendeu.
Mesmo Napoleão havia de
Pós surto existencial
Se questionar: "qual a razão de Tudo?"
E retornar a alguma origem
Desmembrar os trâmites éticos de alguma incompetência com que se elevou.
Até Cleópatra
Certa vez
Há de ter exigido de seus sábios e escribas: "qual a palavra mais importante?"
E ter retornado a alguma origem
Secando por dentro ao testemunhar sua magia tão nítida em sua alienação.

Quem sabe como as formigas perguntam a si mesmas sobre Deus
Talvez lhes pareça o mofo sacro.
Quem sabe se oram os pássaros em suas cantorias
Ou se apenas lhes convêm o tórax aquecido pelo exercício.
Quem pode afirmar qualquer Absoluto e rubricar logo em baixo?
Quem sabe se o vento em movimento não é apenas uma teimosia
Se o pranto em desalento não é senão hipocrisia
Ou se as mulheres todas não compõem uma sobremesa infindável duma ceia pérfida?

Ouvi dizer que admiram minha paixão
E ao invés de um abraço me deram as costas -
Que importa minha paixão?
Luto por nomear prioridades
E peco em seguida nalguma displicência conceitual.
Um pouco mais pesado
Recordo-me do passado incontrolado que aqui me trouxe
E percebo minhas realizações como vacilos e disfarces.
Quero não piscar
E mal contribuo em firmar minha respiração
Como se de algum jeito estranho demais não valesse a pena viver.
Como se de algum jeito estranho demais não valesse a pena saber que se está vivo e que se irá morrer.
Como se de algum jeito estranho demais todo sentido que encontro fosse estúpido
E toda certeza que confabulo fosse inútil
E toda ganância e inveja e desprezo fossem simples atitudes aceitáveis.

Acomodado me incomodo
E tento conceber alguma pressa lógica que justifique minha ânsia erotomaníaca.
Penso sonoramente "honestidade" em meu silêncio de escritor em ação
E não consigo fugir do fato de que é apenas mais um grupo mui específico de letras
De que um chinês ou saxão não necessariamente saiba do que estou falando sem intérprete
Do fato de que estou murchando
Por querer crer num máximo de prazer tangível através de um minímo esforço.

Só que ainda não bati a cabeça forte demais pra me ter esquecido de que venho tentando ensinar-me a mim mesmo a viver melhor alvorada em cima de alvorada.

Fissura

Karma é a resultante infinitesimal das paradecisões.
O luxo nunca pode ser uma necessidade básica - é o que o distingue como luxo!
Tudo é real e também infinitamente improvável.
O porquê é invenção, tanto como o destino, o acaso, o previsível -
Se bem que, o acaso vez ou outra dá conta do recado e inventa algo por si.

Dormir é morrer
E dando uma de professor venho anunciar outras tantas maravilhas
Encontrei-as no fundo do baú da Vida!
Por exemplo, este texto aqui é um presente
Pra um casal de antareanos
Do outro lado da supergaláxia
Que vão me ler daqui uns cinquenta milhões de anos -
E nem me pergunte quantos globos oculares eles têm, porquê eu não sei!
O que importa é que eu amo eles porquê eles são meus fãs
Com tantos olhos quantos forem, eles são ligados no tchã dessa velha história de Universo.
Falando nisso, suas mãos, que você pode ver logo aí - se você é maneta, mil perdões -
Elas na verdade verdadeira nem estão aí!
É só uma hipertorrente de bósons e únions em volta do teu bendito humor
Honestamente, tudo é mesmo uma mentira
Um jogo de luzes, cortinas e aplausos abafados em bebedeiras e abençoados palavrões.
Como se a civilização não fosse mero manicômio a céu aberto...

É isso aí, os super-heróis não ficam em casa lendo gibi não!!!

ESTÓRICO